Recalculando rota

A gente não ganha um mapa traçado quando nasce

Stephanie D'Ornelas
3 min readJul 16, 2022

Há pouco mais de um mês completei minha terceira década de vida. Embora, na prática, o dia do aniversário seja como qualquer outro, ele sempre tem um simbolismo imenso — principalmente quando a gente comemora um número cheio.

Neste ano, ainda teve o bônus simbólico de ter sido o primeiro aniversário em que comemorei com meus amigos depois de dois anos.

Apesar de que as idades possam ser vistas simplesmente como números, acho difícil que esses números não mexam com a nossa cabeça. Ainda estou tentando me enxergar com uma pessoa que não tem mais vinte e poucos anos: o que mudou, quais são meus objetivos e desejos nessa nova fase da minha vida?

Uma das coisas que mais gostava quando comecei a fazer uma segunda faculdade, aos 26 anos, é que convivia com pessoas mais novas que eu, várias com 17 ou 18. E eu achava mágico lembrar de mim mesma naquela época, quando havia tantas descobertas em áreas diferentes da vida, tantos sonhos… e também medos, que via refletidos em alguns devaneios dos meus novos colegas de faculdade.

Gostava de ouvir os desabafos deles, às vezes com tanta pressa para realizar as coisas que queriam, enquanto eu dizia (ou pensava) que aquele era apenas o início da trajetória deles, que eles ainda poderiam mudar de ideias muitas vezes, descobrir que queriam fazer outra coisa da vida em relação ao que estavam em dúvida, e por aí vai.

E existe prazo para que a gente possa se sentir livre para mudar os rumos da nossa trajetória? Estou tentando me desprender disso.

Agora, com 30, a realidade é que às vezes me sinto tão perdida quanto antes, mas com questões diferentes. E às vezes só queria que alguém mais velho, que passou pela mesma fase, pudesse me dizer que é assim mesmo, que vai ficar tudo bem. E mais alguns conselhos que talvez fossem abrir minha cabeça e me mostrar novas perspectivas.

É ruim se sentir perdido, e eu acho que no fundo a maioria de nós se sente um pouco assim, mas vai manejando esse sentimento de um jeito melhor ou pior. Já tive momentos em que eu tive muito mais certezas sobre o que queria realizar na minha vida, de quais deveriam ser os próximos passos.

Hoje me sinto um pouco paralisada pelas incertezas, e a única coisa que sei é que não quero mais ficar assim. Porque o movimento é importante, ainda que a gente siga com as dúvidas (elas sempre vão existir, afinal).

si quieres que algo se muera, dejalo quieto (Jorge Drexler)

Acredito que a pandemia tenha balançado um tanto o meu caminho (como o de tanta gente), muitas coisas que eram claras para mim já não são mais. Coisas que eu tinha certeza que queria fazer já não fazem mais tanto sentido. E eu sigo procurando o que se conecta comigo mesma agora, para não viver presa apenas ao que eu já fui.

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Stephanie D'Ornelas

brazilian journalist writing about books, art, cinema and more | jornalista curiosa sobre o mundo. aqui escrevo sobre livros, arte, filmes e devaneios