Um dia em busca de Bertolt Brecht em Berlim
Meu roteiro berlinense em busca de resquícios da vida do dramaturgo e poeta alemão
Eu tinha um pouco menos de 20 anos quando conheci a obra do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, e foi paixão à primeira poesia. Naquela época eu frequentava com certa regularidade a biblioteca do Paço da Liberdade, em Curitiba, e lá devorava os livros de uma coleção do teatro completo de Brecht — eu desejei tanto aquela coleção pra mim! Na época encontrei para vender por uns R$100, mas como era uma estudante de jornalismo desempregada isso era muito dinheiro. Nunca mais encontrei aquela coletânea à venda.
Tudo o que lia do Brecht me tocava como se ele falasse diretamente comigo. Eram palavras com certa doçura, ao mesmo tempo tão brutas quanto a sociedade que ele criticava. Eu me via nele: em suas palavras eu encontrava as minhas, que existiam aqui dentro sem eu saber. Ao ler seu teatro, pensava em como era possível que ele resumisse a história que contaria a seguir do início ao fim, e mesmo assim eu conseguia me envolver com cada linha como se estivesse dentro da cena sem saber o que viria a seguir.
Eu estava apaixonada, não só pela literatura que este homem escreveu, mas (e talvez, principalmente) por seu engajamento político. Nas palavras de Brecht sinto a urgência de quem não conseguiria vivenciar os momentos históricos de seu tempo sem tomar posição. Eu me imaginava junto a este homem num bar berlinense do século passado, discutindo política, teatro e tudo mais. E invejei Helene Weigel por ter sido sua companheira de vida.
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis (Bertolt Brecht)
Seguindo os passos de Brecht em Berlim
Em 2013 tive a oportunidade de conhecer Berlim. Eu me encantei perdidamente pela cidade, porque era como se visse, com meus próprios olhos, a cidade perfeita que eu achava que só poderia existir na minha cabeça: o ar parecia ter cheiro de liberdade, com a diversidade expressa em cada pessoa andando pelas ruas com ciclovias imensas, a arte estampada em cada esquina, a história concreta do século 20 em cada construção. Era definitivamente a cidade dos meus sonhos, além de cenário de filmes que eu amo, como Adeus, Lênin! Visitar o DDR Museum era como estar num cenário do filme ou da vida na Alemanha Oriental.
E, além de tudo, Berlim também era a cidade de Brecht. Foi lá onde ele viveu boa parte da vida, e depois de fazer uma pesquisa descobri que podia visitar vários lugares que fizeram parte da história dele, como uma das casas em que ele viveu, seu famoso teatro Berliner Ensemble e até mesmo o local em que ele está enterrado, ao lado de Helene. Então, em um dos dias que estava na capital alemã acordei bem cedo e comecei meu roteiro.
Primeira parada: Brecht-Haus
Comecei o passeio pela Brecht-Haus, que foi a casa em que Bertolt Brecht e Helene Weigel viveram e trabalharam no último período de suas vidas, de 1953 até a morte de Helene. A casa fica bem perto do Berliner Ensemble, e está localizada ao lado do cemitério Dorotheenstadt, onde estão os túmulos de ambos. A casa se transformou num local de memória e trabalho para a conservação do patrimônio artístico de Brecht e Weigel.
No local foi estabelecido o Literaturforum, um ponto de encontro para interessados em literatura, teatro, história e política, que promove debates sobre a função social da arte e cultura. Desta maneira, a antiga casa de Brecht está sempre movimentada com uma programação que inclui palestras, rodas de leitura e lançamentos de livros.
Endereço: 125 Chausseestraße, Berlin
Segunda parada: Dorotheenstädtischer Friedhof
Ao lado da Brecht Haus está o Dorotheenstädtischer Friedhof, o cemitério onde estão os túmulos de Bertolt Brecht e Helene Weigel. Várias outros intelectuais alemães estão enterrados lá, incluindo escritores, artistas e compositores. O cemitério estava bem vazio quando eu fui, e fiquei um bom tempo ali, apenas contemplando o silêncio em meio à cidade.
Endereço: Chausseestraße 126, Berlin
Última parada: Berliner Ensemble
Por último, fui conferir o Theater am Schiffbauerdamm, teatro que é sede da Berliner Ensemble, companhia de teatro alemã fundada por Brecht e Helene em 1949. Infelizmente não fiquei em Berlim tempo o suficiente para ir assistir a uma peça lá, mas espero que isso aconteça na próxima vez que tiver oportunidade de viajar para a cidade.
Endereço: Bertolt-Brecht-Platz 1, 10117 Berlin