Últimos dias de 28 e algumas reflexões sobre meus vinte-e-poucos-anos

Olá, quase 30.

Stephanie D'Ornelas
4 min readJun 4, 2021

Faltam poucos dias para meu aniversário de 29 anos, a última idade na casa dos vinte. Eu sempre gostei de fazer aniversário, embora a alegria de organizar encontros com pessoas queridas pra celebrar e ter um dia cheio de mimos sempre tenha uma pontinha de melancolia existencial por estar mais velha. Eu sinto que quando você tem até uns 25 anos, dizer que “está velha” tem um quê de brincadeira: no fundo, você sabe que é jovem, e as pessoas mais velhas riem da sua cara e dizem algo como “quem me dera ter a sua idade”, etc.

Quando eu fiz 25, senti uma virada, um “estou realmente envelhecendo”, e aí chegam os 26, 27, 28, e você já não é considerada tão jovem assim não só por você mesma, mas pela sociedade. Com 28, é você que ri da cara de quem tem 18 e diz que está se sentindo velho (e se você se acha velha com 28, talvez se sinta até “novinha” por uns instantes depois de receber um “ah, mas você ainda é jovem” de alguém de 40 ou 50). Sempre vão ter pessoas mais velhas que você falando pra você parar de se achar velha, mas com qual idade afinal você indiscutivelmente não é mais jovem?

E afinal, o que eu quero dizer com tudo isso? Eu não sei, mas essa é uma coisa que às vezes fico pensando quando sou enquadrada em uma nova idade.

Foi depois dos 25 que comecei a me sentir de fato adulta. Eu não sei bem o que mudou em mim, mas sinto que atingi uma maturidade inédita em relação a muitas questões, e me tornei menos inocente em relação a outras. Paixões, trabalho, família, amigos. O frescor das primeiras experiências é algo delicioso, na mesma medida em que quebrar a cara pelas primeiras vezes é devastador. Você vai aprendendo com os erros, se adaptando, descobrindo o que realmente quer, até chegar um momento em que, de repente, você se sente (pelo menos um pouco mais) madura, mais preparada pra vivenciar coisas que te dariam arrepios no passado e mais certa do que faz sentido pra você.

Pelo menos tem sido assim para mim.

Uma vez, relatando aventuras e desventuras até uns 21 ou 22 anos para um psiquiatra, ele disse que tudo aquilo parecia uma adolescência tardia. Na hora eu senti ofendida, mas depois pensei que ele poderia ter razão. Eu odiei grande parte da minha adolescência. Foi um período muito difícil, que envolveu bullying, depressão, ansiedade, baixa autoestima. Não foi de todo mal, é claro, houve momentos maravilhosos e fiz amizades pra vida. Mas a maior parte do que é vendido como “o lado bom da adolescência” eu realmente só vivenciei depois, e eu nunca entendo bem como existem pessoas que tiveram uma adolescência maravilhosa.

Se por um lado esse período depois da infância e antes dos 16 foi meio traumatizante, depois dessa idade comecei a me sentir um pouco mais confiante em mim mesma, com 17 entrei na faculdade e a partir dos 18 vivi os melhores momentos das minhas quase três décadas de vida. Nos meus vinte-e-poucos eu experimentei o mundo a partir de diversas possibilidades, me apaixonei, quebrei a cara, morei fora, comecei a aceitar o meu corpo (bem mais do que antigamente, pelo menos), realizei desejos de infância e sonhos que nem sabia que tinha, me diverti bastante. Sofri um tanto também e cometi todos os erros que talvez alguns tenham experimentado na adolescência. E aprendi, muito.

Houve momentos em que me senti extremamente perdida, infeliz em um trabalho que me adoecia, sem saber qual caminho seguir e sem entender como os “adultos” resolviam questões que pareciam sem solução pra mim. Até entender que, na real, está todo mundo meio perdido, não importa se você tem 20, 30, 40 ou 50. Mas mesmo com muitas dúvidas em relação ao futuro, neste momento (apesar da pandemia que tem pausado tantos desejos), eu me sinto feliz por estar onde estou.

Faltam poucos dias para meu aniversário de 29 anos, será meu segundo aniversário longe dos meus amigos, mas eu não tenho muito a reclamar porque estarei com a minha família, com quem estou isolada, inventando maneiras de me autopresentear durante esse dia e celebrar a vida da forma que for possível. Um ano atrás, eu ainda acreditava que neste ano seria possível vivenciar um pouco do velho normal com segurança no Brasil. Bem, não rolou, mas eu estou otimista que ano que vem será melhor, e comemorarei os 30 anos sem medo de abraçar todas as pessoas que amo.

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Stephanie D'Ornelas
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Written by Stephanie D'Ornelas

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